ganha um novo
capítulo e caminha para seu desfecho. Os pastores Fernando Aparecido da Silva e
Joel Miranda serão julgados a partir desta terça-feira (25) pelo assassinato do
adolescente de 14 anos, ocorrido no ano de 2001. Previsto para durar quatro
dias, o júri popular acontece no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador. Ao Bahia
Notícias, Marion Terra, mãe de Lucas, afirma que espera sentença máxima para os
acusados. Ela também revela como tem reconstruído sua vida após o crime e fala
da imagem que guarda do filho.
"Meu
sentimento como mãe do Lucas é da inversão de valores que foi muito grande. O
processo chegar a 22 anos sem julgamento, com todas as tentativas dos acusados
que vão sentar nos bancos dos réus, de procrastinar as medidas protelatórias.
Isso foi uma coisa que mais nos feriu, é como se a gente tivesse sido
desamparado pela justiça baiana. Quando um processo corre tantos anos assim,
muitas vezes as pessoas acabam desistindo. Mas eu e o Carlos tínhamos uma linha
de pensamento igual, sempre nos colocamos como pais que o Lucas não está mais
aqui, mas outras crianças e outros pais estão", disse Marion na porta do
Fórum Ruy Barbosa
"Então o que nós queríamos de fato é fechar o ciclo de impunidade com julgamento. Então, em nenhum momento durante essa caminhada, nós deixamos a dor, o sofrimento, tomamos uma decisão juntos que secaríamos as nossas lágrimas para poder continuar. Se a gente continuasse chorando... o Carlos se debilitou muito nessa caminhada, estava doente, não queria se tratar porque achava que se fosse cuidar da saúde dele, ele seria parado", acrescentou.
Para a mãe de
Lucas Terra, os pastores acusados "foram protegidos e blindados" pela
liberdade e diz que o sentimento é que sua família foi condenada a 22 anos para
esperar por justiça.
"A única
coisa que eu lamento hoje é a presença dele aqui, não está aqui comigo. Foi uma
luta muita árdua, andamos lado a lado, eu gostaria muito que ele estivesse
aqui. Mas o que eu quero de fato é que eles sejam julgados, condenados e tenham
a pena máxima, porque eles foram blindados pela liberdade, foram protegidos
pela liberdade. É como se a minha família fosse a culpada e foi condenada a 22
anos para esperar por justiça. Mas hoje a gente está vendo, eu quero que a sociedade
baiana, pais e mães, que julguem e condenem esses homens. Eu tenho certeza
disso que vai acontecer", disse Marion ao relembrar a luta por justiça ao
lado do marido, José Carlos Terra, que faleceu em 2019.
Marion Terra
também lamenta não ter dado um "fechamento de luto" com a morte do
filho, por não conseguir abraçar e se despedir de Lucas. "Eu não tive o
fechamento de luto, de abraçar meu filho. Quando uma família perde um ente
querido, que tem a oportunidade de estar ali em um funeral, de tocar, de
abraçar, e isso eles não me deram a chance. O que eles fizeram com meu filho
foi brutal, foi covarde. Assassinos covardes, que pegam uma criança de 14 anos
e queimam vivo, e simplesmente jogam em um terreno baldio como se fosse um
lixo. Lixo são eles, assassinos são eles, pedófilos. O que eu quero de fato é a
sentença", acrescenta.
"Meu
filho está sempre comigo, eu lembro dele todos os dias, eu abraço ele todos os
dias, porque ele continua presente na minha vida, mesmo não estando
fisicamente. Eu tenho uma esperança que um dia vou abraçar ele na eternidade. E
isso me mantém viva, é saber que não estou sozinha", finalizou.
O JÚRI
Serão 29
jurados, sob a liderança da juíza Andrea Teixeira Lima Sarmento Netto. Os
promotores Ariomar José Figueiredo da Silva e Davi Gallo representarão o
Ministério Público da Bahia (MP-BA) na acusação dos pastores, que serão
defendidos pelos advogados Nestor Nerton Fernandes Tavora Neto e Nelson da
Costa Barreto Neto.
Tanto Fernando
Aparecido quanto Joel Miranda são acusados do homicídio do garoto Lucas Terra,
assassinado aos 14 anos de idade em 21 de março de 2001, no templo da Igreja
Universal do Reino de Deus no bairro do Rio Vermelho.
RELEMBRE O
CASO
Lucas Terra
era frequentador da Igreja Universal do Reino de Deus, no bairro do Rio
Vermelho, e foi encontrado morto, com o corpo carbonizado, em um terreno baldio
na Avenida Vasco da Gama.
O principal
suspeito do caso, na época, foi Sílvio Roberto Galiza, pastor da Universal. Ele
já havia sido afastado da igreja por ter sido flagrado dormindo ao lado de
adolescentes frequentadores do templo.
Os
investigadores concluíram que Galiza abusou sexualmente de Lucas e o queimou
ainda vivo, descartando o corpo para encobrir o crime. O pastor foi condenado,
inicialmente, a 23 anos e 5 meses de prisão em 2004. Após recursos, a pena foi
reduzida para 15 anos. Hoje, o condenado vive em liberdade.
Porém, em
2006, surgiu uma nova versão. Galiza delatou os também pastores Fernando
Aparecido da Silva e Joel Miranda. De acordo com o religioso condenado, os
colegas da Igreja Universal foram flagrados pelo adolescente em um ato sexual.
Segundo ele, por esse motivo, Lucas Terra teria sido assassinado.
Como consequência dessa delação, o Ministério Público da Bahia (MP-BA), que já desconfiava que Galiza não teria cometido sozinho o crime que resultou na morte de Lucas Terra, denunciou tanto Fernando Aparecido quanto Joel Miranda como corresponsáveis pelo homicídio.
Após diversas
idas e vindas, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os dois pastores
deveriam ir a júri popular, em um julgamento que está marcado para às 8h desta
teça (25), no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador.